Algo muito discutido e comentado entre os fabricantes de estruturas é treliçar ou fazer em perfil laminado W.
Só porque muita gente faz, não significa que sempre será a melhor solução....
"Galpões de alma cheia ficam muito caros, aqui só construímos com treliças".
Por algum tempo não questionei essa "verdade" pois acreditava que a experiência dos serralheiros e construtores que estavam há mais tempo no mercado e já havia sido testada e comprovada.
E muitas vezes atendia às solicitações de alteração no projeto preliminar, substituindo uma ideia de conceito em perfis de alma cheia pelo conceito treliçado.
Para mim, não fazia sentido que o conceito treliçado fosse sempre mais econômico, pois em engenharia dificilmente existe uma solução que sempre seja a melhor em 100% dos casos.
E um dia resolvi tirar a prova e testar se essa afirmação era realmente verdadeira.
Peguei todos os projetos de galpões de diferentes vãos que eu já havia entregue, bem como os mezaninos, vigas etc... e comecei a compará-los. Com esses projetos em mãos, e as listas de materiais a primeira conclusão foi clara: de fato, os projetos treliçados eram mais leves do que os em perfis de alma cheia.
Para ser preciso, os projetos treliçados que eu havia feito apresentavam peso em torno de 50% a 70% do peso dos projetos em alma cheia, em termos de taxa de aço (kg/m²), e isso era um sinal de que talvez a afirmação dos construtores estivesse correta, pois no mercado é costume cobrar por peso de aço.
Não satisfeito, resolvi fazer um estudo mais aprofundado: Lancei 16 galpões (8 treliçados e 8 alma cheia) de vãos diferentes no Cypecad Metalicas 3D, iniciando com vão livre de 10m, depois 15m, depois 20m, até 45m, sempre com as mesmas cargas de vento, sobrecarga e cargas permanentes, e comecei a comparar os resultados entre galpões treliçados e alma cheia de mesmo vão.
Diante desses resultados, chamei ao meu escritório 6 dos meus clientes construtores mais experientes, donos de serralherias e empresas de montagem e pedi para que estimassem o tempo de obra de cada uma das soluções, a quantidade de insumos que seriam utilizados, a quantidade de mão de obra que cada solução exigiria, mostrando para três deles as soluções em alma cheia e para os outros três as soluções treliçadas.
E os resultados que obtive foram os seguintes:
O tempo de fabricação de obras treliçadas é em média 40% maior que o de obras de alma cheia
O preço por quilo de aço de perfis dobrados ASTM A36, no Estado de São Paulo é em média 15% maior que os perfis laminados Gerdau Açominas ASTM A572 gr 50, que por sua vez possui Limite de escoamento 38% maior que o do A36
Gasta-se o dobro de insumos na fabricação de treliças (discos de corte, eletrodos, tinta, solvente, etc).
Em geral mobiliza-se mais dois ajudantes e um profissional para fabricar treliças do que em pórticos em alma cheia.
A montagem de ambas as soluções tem custos idênticos
Após analisar esses dados, cheguei à seguintes conclusões:
Se o preço em R$/kg do aço ASTM A572Gr50 (Gerdau-Açominas) for igual ao preço do perfil dobrado A36 na região, só vale a pena construir treliçado à partir de 20m de vão livre.
Se o preço em R$/kg do aço ASTM A572Gr50 (Gerdau-Açominas) for 15% menor que o preço do perfil dobrado A36, só vale a pena construir treliçado à partir de 25m de vão livre.
Só vai valer a pena construir treliçado no vão livre de 10m se o preço do aço laminado Gerdau-Açominas for 20% maior que o preço dos perfis dobrados A36
Ou seja, no final das contas, percebi que a solução treliçada só é viável para o construtor à partir de algumas condições, e que nem sempre será a melhor escolha. Perceba que cobrar por peso é uma espécie de armadilha para o construtor:
- Treliçados são mais leves e mais trabalhosos, cobra-se menos e gasta-se mais com mão de obra, alimentação, insumos e economiza-se pouca coisa no material quando falamos de pequenos vãos. Uma coisa importante:
Esses testes baseados em galpões calculados conforme Normas, com sobrecargas corretas, majoração e coeficientes de segurança adequados... jamais podemos comparar esses resultados com galpões feitos no "olhômetro" que encontramos aos montes por aí.
Esses galpões feitos de qualquer jeito ficam de pé? sim, claro... enquanto não surgir o vento mínimo de 108km/h que a NBR-6123 prevê que tem 63% de probabilidade de ocorrer uma vez em 50 anos.
Meu amigo " Felipe Jacob" escreveu este estudo que mostra claramente as vantagens e desvantagens.
Importante ressaltar que como Calculista de estruturas não trabalhamos com o "achismo" mas sim baseados em normas e estudos.
Espero que tenhamos lhe ajudado a ver as diferenças entre os modelos de estruturas que ouvimos no cotidiano.
Meu nome é Diego Morais
Calculista e Projetista de Estruturas Metálicas e Estruturas Mistas
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